sábado, 27 de agosto de 2022


                                                          MINHA HISTÓRIA


Era começo de noite de um dia frio.
Minha mãe, minha irmã e eu, ambos ainda adolescentes, entramos em um trem com malas feitas às pressas rumo ao desconhecido.
Viajamos a noite toda para   outrpequena cidade do interior, já no planalto do Rio Grande do Sul onde depois de esperar um dia em uma rodoviária pequena,comendo sanduíches, pegamos outro ônibus e viajamos mais uma noite inteira.
Chegamos em uma pequena cidade no interior do Paraná, onde eram poucas ruas calçadas, não tinha sinal de televisão e os telefones eram escassos.
Fomos acolhidos por parentes. Nosso pai apareceu três meses depois, com apenas a roupa do corpo.
Tínhamos perdido tudo.
Uma chácara onde criava galinhas e porcos e o melhor restaurante da cidade, automóvel, tudo vendido às pressas por qualquer dinheiro a "amigos" que aproveitaram a ocasião .
Logo um primo, dono de um jornal me arrumou um emprego, meu pai foi trabalhar como vendedor de máquinas agrícolas e a vida começou a tomar jeito.
Meu pai era um dos milhares de brasileiros que foram ​perseguidos​ por ser​em ​ brizolista​s​. Uma das milhares de vozes caladas por protestar contra a conspiração militar.
Contra um homem tão ​"​perigoso ​"​como era meu pai, assisti o exército colocar uma barricada de sacos de areia com uma metralhadora e soldados, sobre um cavalete em frente ao seu restaurante.
​Vi várias vêzes meu pai fazendo discursos em praça pública contra a intervenção militar. Vi e assisti amigos, até então de meu pai, ignorant​e ​ou covardemente se acomodarem e se omitirem até mesmo quando ele precisou . Assisti um povo todo que ria e comia na nossa casa, sumir. Parentes com alguma importância social na cidade, baixarem as cabeças.
Uma sociedade toda, um povo todo aceitar mansamente o cabresto e o que viria a partir daí.
Nunca mais nos recuperamos.
Meu pai, como a maior parte das pessoas, era um homem sem estudo​,​ bruto e polido por si mesmo. Com muitos defeitos mas tinha o que considero a maior qualidade de todas: Era humano.
Com uma capacidade até doentia de ler muito​, ​sempre que tinha tempo, ​lia ​de tudo em grandes quantidades. Isto fez com que entendesse realmente o que se passava.
Hoje vejo novamente o filme se repetindo. Muitos amigos e parentes, covardes ou ignorantes agindo da mesma maneira que aqueles covardes ou ignorantes amigos de meu pai agiram. A incapacidade de entend​er​ o que realmente se passa não serve como desculpa para tal crime de lesa pátria.
Quando Jango tenta nacionalizar o petróleo, foi a gota final para forças externas intervirem.
O filme que estamos assistindo novamente é igualzinho o que já vi na minha juventude.
A utilização das forças da mídia controlada pela extrema direita, que não é brasileira e a intervenção para que nossas riquezas principalmente o petróleo continue sendo de graça para eles, estão novamente em ação. O uso da Igreja que já não é mais a católica, agora com outro nome, manipulada por picaretas e vigaristas usada para fazer a cabeça de milhões de brasileiros, sem cultura, sem leitura, sem capacidade de entendimento,​ ​​e ​também gente egoísta e perversa, gente frustrada por querer e não poder, de desejar e não ter, fazem hoje o mesmo jogo de sempre felizes por serem serviçais num trabalho contra nossos interesses nacionais.
Hoje assistimos a história se repetindo.  Exatamente igual pelos mesmos motivos. E nossa luta continua.
Dilamar Santos

​(P​ara o Ortêncio e o Welcy que ​lutaram nesta trincheira.​)

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