domingo, 15 de abril de 2012

FECHADURA DO ATELIÊ

                                       QUEM INVENTOU A PRESSA?

                                                                                     miguel ângelo


                Seria curioso fazer-se uma viagem no tempo e descobrir a origem dessa praga que tomou conta da vida moderna, a pressa. Seria curioso mas não é, neste momento, minha proposta. Prefiro contar como saí dessa armadilha. Não foi uma coisa calculada, foi acontecendo...            Em 1970 estudei no Curso Anglo Latino em Sampa, na época, o melhor cursinho de exatas do Brasil. Não lembro o nome do professor de física, mas era um coroa, sem sorrisos, ex-professor do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica – o Top do Brasil). Essa fera certo dia nos ensinou que a energia necessária para um corpo se deslocar de zero a sessenta km/h, aumenta aritmeticamente; que a partir de sessenta até (se não me engano) 360 km/h, a energia exigida passa a ser exponencial, ao quadrado. Trocando em miúdos: qualquer veículo andando no plano, sem vento, consumirá o mesmo por km rodado, seja qual for a velocidade entre zero e 60km/h; ultrapassada essa marca, passará a consumir energia/combustível numa razão geométrica, ou seja consumirá bem mais; melhor ainda: quanto mais correr, mais consumirá por km rodado.            Essa informação me ficou lá no fundinho de meus arquivos de memória como coisa esquecida. Em 2008, pensando na questão do Respeito, que deveríamos respeitar TUDO, a ficha que continha a informação saltou do fichario e caiu bem defronte meus olhos. Acostumado que estava a andar bem acima de 60km/h, resolvi dar uma baixada e estabeleci meu limite na marca de 80km/h. Asseguro que não foi assim tão fácil, mas fui acostumando. Numa viagem que fiz à cidade de Rio Grande, lá o limite era 60km/h; gostei e, na volta pra Floripa, mantive-me em marcas inferiores a 80km/h. O consumo do ranchomóvel despencou. Antes de 2008 o rendimento era de cerca de 10,5km/litro, tanto nas estradas como na cidade; agora, na cidade (aqui em Floripa) faz mais de 12km/l e, nas estradas, andando a 80km/h, varia de 13,5km/l a 15km/l, dependendo do trânsito. Note que andar a menos de 80km/h nas BRs é complicado...            Pois bem, por querer respeitar a Natureza reduzindo a emissão de gases, ganhei um prêmio maior, e inesperado: fiquei mais calmo, bem mais. Passei a ver mais as paisagens, fiquei menos esquecido - aquela coisa que a gente, que sai correndo e esquece, sabe? Antes, que tinha pressa, me faltava tempo; agora, que estou cheio de projetos e compromissos, sobra-me tempo. Parece-me que a pressa é uma das pragas modernas, irmã da ganância; ambas filhas da falta de respeito, por si e pelo Mundo à volta. Respeitar é mais do que ver o “direito” do outro; é ver o outro em si.            Quem ensinou que Tempo é Dinheiro, mentiu; ludibriou todos que nele acreditaram, e muitos destes se tornaram aleijões. A saída é reduzir a velocidade, comer mais devagar, arrumar tempo pra ler, encontrar os amigos... Falei “encontrar os amigos” e não simples “relações”, essa coisa superficial, vazia de sentido, própria de quem tem pressa.
 
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