sábado, 15 de junho de 2013


                                      Linda Música Triste
          
            Nem sempre a alegria é o melhor lugar.
            Recebi uma mensagem com um anexo que contém uma música, cujo nome ignoro, que me soa agradável, mas simultaneamente mui triste. Ela toca, toca, repetindo-se indefinidamente; ouço-a com profunda tristeza, uma tristeza que me leva num voo panorâmico sobre a humanidade tão sofrida. Parece-me sentir toda dor do mundo; não a dor física, mas a angústia que, imagino, perturba a todos, que é aquela do não se saber o que somos na vida.
            Buscam-se tantas explicações, bengalas, religiões, no entanto nada sabemos de fato. Somos, como nesta música, exilados numa nau sem rumo, cujo destino, se há, ignoramos.
            Talvez eu seja presunçoso ao imaginar que todos sentem isto; talvez a maioria da humanidade viva aferrada a certezas de paraísos prometidos. Como não creio em paraísos, sofro esta angústia. Sofro e não sofro, já que a dúvida, ou uma quase certeza do nada, me é até prazerosa. Contradições e mais contradições; esta, mais uma. Como pode uma dor causar prazer? Mas é. Prazer e dor são irmãos siameses, indissociáveis. No máximo do prazer, sentimos a dor da perda possível e quase certa. É o que esta música me faz sentir; ela me diz que tudo tem um final. Em sua tristeza infinita e indescritível, ela me revela a caminhada vã da humanidade inteira; caminhada em busca do Eldorado, da felicidade perene, do final feliz tão introjetado em nossa cultura.
            Ah, como é triste esta linda música!
            Os olhos marejados e um imenso prazer... Ela se repete, repete e não canso de ouvi-la, como um ópio; ouço-a como num prolongado orgasmo. Tenho medo do silêncio que terei no final. Parece-me que, enquanto ela permanecer, os males do mundo ficarão em suspenso, estarão numa trégua; que eu, ao polarizar essa dor, alivio toda dor do mundo. Sei que é pura ilusão, mas a vida, afinal, o que é senão pura ilusão?
            Ah, como é linda esta música triste!
            Vejo um mundo cheio de flores; rosas perfumadas à beira de cascatas de águas claras e de branca espuma. Vejo as ondas do mar chegando tranquilas a uma praia de areia branca. Um vestido, também branco, esvoaçante, bailando graciosamente numa alegria sem fim, contesta toda dor contida nesta melodia mágica que me envolve em seu manto morno – enganoso?
            Afinal, o que é a música senão uma impressão. Que riam os tolos que por tolo me tomam. Não rio deles; lamento-os apenas. Quanto perdem por falta de sensibilidade! Talvez seja isto que esta música me diz.
            O quê?
            .......
            miguel angelo
            150613

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