terça-feira, 28 de agosto de 2012

MARCAS E ETIQUETAS

                            
                                MARCAS E ETIQUETAS
                                                                            Miguel Angelo

    No início da década de 80, comecei a ver mulheres exibindo blusas vermelhas com a palavra “Coke” escrita transversalmente, no estilo da Coca-Cola, o que não deixava dúvidas de que era uma ode à bebida mais decadente que a humanidade já conheceu. Por esta época, morava eu em Maceió e, certo dia, deparei-me com uma “Boutique Coca-Cola”. Sim, gente, havia uma boutique especialmente montada para convencer pessoas a pagar pra fazer propaganda. Ora, pagar pra fazer propaganda eu só entenderia em fanáticos religiosos; um produto comercial deveria pagar por sua propaganda, daí que, ao perceber tal aberração, disse com meus botões: “Algo foi invertido no cérebro dessas pessoas, daqui pra frente o sistema fará delas o que quiser.”            Dito e feito. A seguir, começou a competição das marcas. As roupas, que antes traziam suas etiquetas discretamente na parte interior, passaram a exibi-las como decoração. Ter roupa de marca passou a ser sinônimo de estar bem vestido. Certa ocasião, já em plena febre das marcas, numa festa de aniversário, um cara que nunca me dava bola, de repente se aproxima de mim e, apontando pra um enfeite que havia em minha blusa, perguntou-me: “É Lacoste?” Até então eu não sabia o que era Lacoste; era a primeira vez que ouvia aquela palavra, daí que, sem saber o que responder, fiquei paralisado ante aquela inusitada aproximação. Ele levou o indicador direito até a blusa, olhou com atenção e completou: “Ah, não é Lacoste...” Deu meia volta e, decepcionado, simplesmente se retirou. Eu não usava Lacoste, não merecia sua atenção...            Acredito que muitos, pelas mais diversas razões, que não pelas marcas, usam tais roupas sem fanatismo, no entanto, ao que me parece, a maioria se sentiria mal sem usar uma “roupa de marca”. Reparem que roupa de marca passou a ser um novo termo, ou seja, o fenômeno não é coisa pouca; é uma nova postura comportamental, digna de estudo como um fenômeno de massas, sinal de novo tempo, tempo de uma humanidade manipulada de todas as formas, onde tudo é invertido. Os bancos, p.ex., ao invés de pagarem juros pelos dinheiros em suas contas, cobram pelo uso da conta, e ninguém protesta.             Este processo, como uma teia, envolveu os indivíduos numa sensação de impotência, esvaziando-os em sua dignidade, levando-os para as drogas, principalmente o álcool, numa fuga para não se verem degradados.  Só que esta apatia tem seu tempo. O homem não fica muito tempo neste estado. Como disse Lincoln, “Ninguém é capaz de enganar todos o tempo todo” e eu acrescento: “Nem o Capital”, pois seu templo já apresenta fendas indicadoras de sua ruína. Quando a água começar a bater na bunda da burguesia, teremos mudanças... e serão dramáticas. Portanto, estejamos preparados, pois não serão as “marcas” que nos vão salvar e sim nossa integridade.

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