terça-feira, 14 de agosto de 2012

Guerra? Nem de botões!


                                       Guerra? Nem de botões!     
                                                                                               Miguel  Angelo

            Fui, ontem, ver a refilmagem do filme “Guerra dos Botões”, de 1961, uma ficção que se passa no sul da França em 1960, isto é, dentro do período em que acontecia a guerra de independência da Argélia, então ainda possessão francesa.
O filme é todo envolto de uma aura de inocência numa luta de dois grupos de meninos; falsa inocência, pois fica patente que uma facção é “boa” e a outra, “má”. É a velha dicotomia hollywoodiana mocinho x vilão, fórmula que dá bilheteria e alimenta os sonhos da indústria bélica ao fazer a cabeça das crianças que, ao invés de se tornarem amigos inteligentes, criam-se na idéia do conflito permanente, do inimigo a priori, numa postura estupidificante, preconceituosa.
            Como o inocente docinho que se dá a uma criança, viciando-a, assim entram essas mensagens nas cabeças infantis.
            Os tempos mudaram e eu diria, sem fazer uma bandeira do termo, que o filme é, atualmente, “politicamente incorreto”. Não é mais hora de se dar asas a idéia de guerra. Penso como Umberto Eco, que devemos – sim, devemos – converter a palavra guerra num tabu, ou seja, algo nojento, beirando o impronunciável; palavra que deve ser cercada de cuidados ao ser dita.
            Diferenças de temperamento sempre existirão entre as pessoas, isto é, a humanidade sempre terá conflitos, por mais que queiramos a paz, mas se ficarmos falando em guerra de maneira irresponsável, jamais poderemos sonhar a harmonia entre os povos e, é claro, entre os indivíduos. Falar em paz e manter arsenais e/ou ficar praticando jogos de guerra é uma ridícula contradição.
Sei que não é fácil ou mesmo possível mudar-se em tão pouco tempo, mas temos que ir mudando de atitudes, repensando palavras venenosas que estão em nosso vocabulário cotidiano, pois elas pervertem qualquer “boa intenção”.
Praquela época, penso, o filme seria até válido para os franceses, que sustentavam a citada guerra e precisavam manter a idéia de competição e domínio no espírito dos jovens, futuros soldados. Porém hoje, que já nem podemos mais aceitar tantos conflitos, ficar mostrando tais filmes é incentivar a violência. O mundo necessita de novos modelos de comportamento, pois o que se vê nos filmes acaba se incorporando ao nosso dia a dia: aqui se ri, lá adiante a gente faz igualzinho.
É isto, não há muito mais que acrescentar. Fui criado com brigas e competições e cansei desse modelo. Não porque esteja velho, mas por uma lógica simples: quem bate, machuca o outro, mas se machuca igualmente ou mais até. Bater em alguém é até fácil; bem mais difícil é aprender a se conter e desenvolver a força interior, a dignidade, o sinceridade. O uso da força nas relações humanas denota ignorância, daí que quanto mais dele fizermos uso, mais permaneceremos tolos, idiotas. Não quero isto pra mim. Guerra? Nem de botões!



 

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