quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O SENTIDO DA VIDA


      Lembrando meu pai, quando jovem, ele não tinha uma religião. A um irmão (um tio que não conheci e cujo nome nem sei) tuberculoso e que estava já nas últimas, ele pediu que, quando morresse, lhe viesse dar um sinal dizendo-lhe sobre a “vida do outro lado”, se houvesse. Contou-me ele (meu pai, é claro) que nunca teve um retorno do espírito de seu irmão, mas que, quando conheceu minha mãe, católica praticante, e por ela se apaixonou, que viu nesse encontro da mulher amada um sinal, uma resposta, de seu finado irmão.
            A partir de então, meu pai José conectou-se à Igreja Católica e passou a seguir à risca os preceitos daquela religião. Chegava a ser engraçado, pois quando mudava de papa, ele também mudava de opinião. Dois anos após a morte de minha mãe e pouco antes de ele morrer, e antevendo o fim, tentou, usando do recurso da chantagem emocional, convencer-me a casar pelo religioso, pois eu, desde jovem não mais católico, casara apenas pelo civil. “Estou no fim e quero te fazer um pedido; tu fazes?” “Se for possível faço.” Respondi, já imaginando o que vinha. “Quero te pedir que te cases pela Igreja.” “Pai, nos evangelhos Cristo fala inúmeras vezes criticando os hipócritas - respondi e continuei – o pai sabe que não sou católico e que, se quiser casar pela Igreja terei que passar por católico, o que seria uma hipocrisia. O pai quer ter um filho hipócrita?”
            Sem argumento, não insistiu mais, e assim ficamos sem atritos nem compromissos. Ele, por seu lado, continuou apaixonado por minha mãe que ele iria encontrar no Céu, e assim viveu seus últimos tempos. Morreu com 92 anos e deve estar do lado da Lenira. Ou será que não?
            Que importa? Crendo nisto, ele viveu tranqüilo, isto sim importa. Na vida vale no que cremos. Coerência... ele tinha alguma. Quando não somos coerentes, somos corroídos internamente. O falso jogo das aparências é o pior que alguém pode fazer por si mesmo. Se o mundo vai mal é porque um número exagerado de indivíduos vive em desacordo com o que pensa que pensa. Sim, é isto mesmo: pensam que pensam, pois repetir as idiotices televisivas, por exemplo, é não pensar, é se deixar conduzir feito bobo. Por este caminho, a vida realmente nunca vai fazer sentido.
Sentido à vida, cada um pode dar o seu; melhor ainda quando há, no mínimo, uma pitada de entusiasmo.
miguel angelo
 

2 comentários:

  1. Muito bom o texto. Quem é Miguel Angelo? É uma figura angelical?
    José Contino Lisboa

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  2. Oi Dilamar! Voltando a navegar depois de um recesso forçado devido a problemas com a internet...mas, são coisas que acontecem, pequenos problemas pelos quais passamos. Encontrei teu recado sobre o texto que escrevi e , pelo que pude entender, foi aquele sobre o show na praia do Campeche. É isso? Vou tentar colocar novamente, não com as mesmas palavras pois é impossível já que escrevo naturalmente, sem rascunhos ou coisa parecida. Agora no momento estou apenas dando uma chegada no teu blog, que por sinal é bonito e interessante. Quanto ao último texto, acabei de ler, gostei, interessante e verdadeiro. Sou católica, mas no sentido amplo da palavra, uma vez que a própria palavra "católico", significa Universal, e é o que eu sou, tenho uma visão universal, destituída de preconceitos e um espírito que crê no amor incondicional por todos os seres, respeitando a vida em todos os seus aspectos. Me considero um ser holístico...com uma ampla visão do cosmo, e, para mim,....Deus não tem religião....Ele é o mais puro amor é o próprio Universo. Um grande abraço Dilamar e que Deus abençoe tua família.

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