segunda-feira, 31 de maio de 2010

Do Caráter e do Respeito



Minha finada e complicada mãe citava um aforismo: “O tempo está para as pessoas assim como para os vinhos: aprimora os bons e azeda os maus.” Já o Machado de Assis corrige outro ditado: “A ocasião não faz o ladrão, faz o furto, porque o ladrão já nasce feito.” Ambos afirmam algo trazido de nascença, congênito. Afinal, o caráter, bom ou mau, já vem do ventre ou se forma na relação com o meio?

A ciência biológica nos ensina que nascemos propensos a certas doenças, daí deduzo o mesmo para o caráter. Como quem nasce numa família de cancerosos não necessariamente se torna um, quem nasce no meio de pessoas falsas não necessariamente será mais um.

A mentira é filha do medo. Numa sociedade onde as crianças são tratadas por pais opressores, obviamente que elas vão desenvolver a mentira, e muito dificilmente um dia se livrarão disso, pois tende a virar um vício: tende a ficar crônico. Como vivemos numa sociedade utilitária, onde não somos educados adequadamente, onde não somos orientados para um espírito crítico e contemplativo, e sim adestrados para um sistema produtor de coisas materiais, mesmo que inúteis, somos, de pequeninos, podados, amedrontados por pais violentos que nos induzem a mentir para nos livrarmos de castigos, na mais das vezes, absurdos.

Quando física, a violência é clara, explícita, facilmente identificável, já a verbal, disfarça-se de muitas maneiras, dificultando, mais tarde, lidarmos com o problema em busca de solução.

A palavra mais empregada pelos pais em sua relação com os filhos pequenos é o Não!, pois é bem mais prático do que ficar ali explicando pra criança os porquês, afinal os pais tem que produzir bens ou serviços, para sobreviver ou para o excedente, e não tem tempo a perder com a educação dos filhos. Assim este modelo desumano se perpetua: os pais não foram, quando pequenos, respeitados em seus direitos, agora reproduzem os mesmos erros. Há pais que querem mudar o rumo mas não sabem como fazê-lo, e pior, muitas vezes nem tem as condições intelectuais e/ou econômicas para tal; aí vemos a perversidade que decorre deste sistema todo voltado para o lucro, onde os meios de comunicação, ao invés de educar, pregam consumo.

Como sair desse ciclo vicioso? Só vejo um caminho: uma maciça campanha pelo Respeito, que é o que falta em nossa cultura, mas não um respeito hierárquico, como o que até hoje foi imposto desde os tempos dos reis e imperadores. O respeito hierárquico é subserviente, hipócrita, não serve mais para uma sociedade que se pretende democrática. Necessitamos, agora, e definitivamente, do respeito pelos iguais. Melhor ainda: Respeito por Tudo. Se respeitarmos o meio, estaremos respeitando também o outro, pois todos fazemos parte desse todo. Um pai que exige respeito, tem que se dar ao respeito, e tem que respeitar os limites da criança. Respeito é o mínimo que devemos ter com relação ao meio.

Se tivermos uma sociedade em que as pessoas se respeitem mutuamente, dela pode aflorar algo que tantos denominam de Amor, mas que muito poucos tem noção do que se trata.

miguel angelo


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