sábado, 26 de novembro de 2011

PLEBICITO PARA DIVISÃO DO PARÁ



por Miguel Angelo
presidente da Associação ECOS

      PARÁ – BRASIL – CIDADANIA            Sintetizar estes itens não me parece ser tarefa fácil, mas vou tentar.            Se alguém te pergunta se és cidadão brasileiro, por certo dirás: Sim! Mas o que é um “Cidadão”? No Aurélio a definição é: “Indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado, ou no desempenho de seus deveres para com este.” Creio que aí cabe uma alteração, pois na minha concepção o “ou” deveria ser substituído por “e”, pois quem não assume os “deveres”, não merece ser citado como cidadão.            Pois bem, após arvorar-me e apontar falha no Aurélio, parto para uma questão de justiça. Dias atrás, repassei, com elogios, um escrito do padre Antônio Vieira. Sem dúvida o escrito dele, altamente crítico, é belíssimo e, à época, garantiu a então necessária unidade do Estado do Pará. Reutilizado por José Ribamar B. Freire, revestiu-se de atualidade, inda mais que, como nunca, a roubalheira está atingindo níveis se sem-vergonhice: “Eu roubo, e daí?”            No entanto estamos vivenciando um início de mudança na atitude dos brasileiros, sempre tão submissos e, agora, iniciando reações com sabor de democracia; primeiramente foi a enxurrada de denúncias, impensáveis enquanto o poder permanecia “à direita”, e, agora, o início de ações a partir da cobrança popular: o “Ficha Limpa” e, não demora, uma reforma no Congresso – questão de tempo.            O Estado do Pará está às vésperas de um plebiscito que dirá se ele será dividido em três ou não. Se ocorrer a cisão, obviamente que haverá aumento nos custos administrativos, mas a questão, por este viés, é simplista, pois a questão humana não é meramente um conta aritmética. Se, para alegrar o povo brasileiro, trazemos a Copa, cujos custos já andam lá pelos R$72 bilhões, e por certo vão além, qual o problema em se criar dois novos estados que, se bem administrados – e aí é uma questão de educação de um povo que saiba fiscalizar seus governantes – poderão atender as necessidades de uma população que vive num território imenso, maior do que a soma de RJ, SP, PR, SC, RS e MS juntos?            Nós, o resto do Brasil, não vamos votar naquele plebiscito, mas, se quisermos, posteriormente, fazer qualquer crítica às decisões tomadas pelos paraenses, temos que ser um mínimo informados; para isto estudamos geografia e história. Estudamos? Pelo menos deveríamos ter estudado e continuado estudando, pois, como alega o próprio Romário (quem diria?), “a ignorância é parceira da corrupção”.             Para fazer justiça, agora envio, anexo, o escrito de Ana Célia Pinheiro, aliás muito bem escrito, que defende a criação de mais dois estados: Tapajós e Carajás. Lê-los é uma questão de cidadania.            miguel angelo




O Plebiscito, o “paraensismo” e a vida severina de quem mora no Baixo-
Amazonas e no Sul e Sudeste do Pará.
Por: Ana Célia Pinheiro
Minha história é muito parecida com a de milhões de paraenses.
Meu avô materno era um maranhense que descendia de holandeses e que
acabou se casando com uma cabocla do Marajó. Meus avós paternos eram
portugueses.
Mas os meus pais, assim como eu e os meus irmãos nascemos e crescemos
como caboclos paraenses – e com sólidas raízes na Ilha do Marajó.
Adoramos açaí, farinha, pirarucu, maniçoba, manga, pupunha, cupuaçu. E
temos, também, um indisfarçável “nariz de batata”.

E é nessa condição de paraense da gema, com este estado no sangue, no
olfato e no paladar, que eu gostaria de me manifestar, mais uma vez, sobre
a proposta de divisão do Pará.
Em primeiro lugar, quero parabenizar todos aqueles que lutaram pela
aprovação do Plebiscito.
Trata-se de uma importante vitória, não apenas porque pode significar a
concretização daquilo que é o sonho de milhões de irmãos brasileiros: a
criação dos estados do Tapajós e de Carajás.
Mas também porque o Plebiscito nos permitirá debater de verdade uma
questão que já não pode ser varrida para debaixo do tapete.
E penso que, antes de mais nada, é preciso afastar desse debate o
simbolismo romântico da “grandiosidade do Pará”, da “estrela solitária da
bandeira”, do “orgulho de ser paraense”, entre outras subjetividades que
derivam deste nosso “paraensismo” exacerbado.
Até porque o que estamos a discutir não é simplesmente um ideal. Mas, as
condições de vida de milhões de cidadãos.
II
Só quem não conhece o Pará – a Transamazônica, o Baixo-Amazonas, o Sul
e Sudeste – é que não consegue entender o sentimento de abandono das
populações dessas regiões.
Esse gigantismo que cantamos em prosa e verso tem sido, em verdade, um
enorme obstáculo à melhoria da qualidade de vida daquelas pessoas.
Muitas vezes, e nem prometendo os olhos da cara, se consegue levar um
médico para essas regiões.
Muitas vezes, um profissional de Santarém ou de Marabá tem de se mudar
para Belém e trabalhar dobrado, para ter o seu valor reconhecido neste
gigante chamado Pará.
Muitas vezes, a produção inteira de centenas de agricultores se perde pela
impossibilidade de escoamento.
Porque a esse gigantismo também se junta (talvez geneticamente, devido à
imensidão territorial), a falta de infra-estrutura: de transportes, de
comunicação, de todos os tipos de assistência. E tudo, até mesmo na
iniciativa privada, acaba girando em torno de Belém.
Mas para além do reconhecimento profissional ou da perda da produção, o
mais importante é mesmo o sofrimento e a morte de milhares de pessoas,
pela demora ou pela falta de atendimento.
E esse, sim, é um dado objetivo – ao contrário do simples “orgulho de ser
paraense”.
III
Até pouco tempo era mais fácil – e até mais barato – levar um doente
dessas regiões para se tratar em outro estado, do que trazê-lo para a
capital.
Há três anos, quando estive pela última vez no Sul e Sudeste do Pará, a
internet, que vai se tornando cada vez mais um direito humano,
simplesmente inexistia em boa parte daquela região. E quando havia era
tão precária que a gente ficava pensando se não seria mais fácil enviar um
sinal de fumaça.
Há uns 13 anos, quando estive pela primeira vez na Transamazônica,
localidades inteiras comemoravam a chegada da energia elétrica – vejam
só!...
E aí a gente tem de pensar que, além do gigantismo e da precariedade de
infra-estrutura, há outro problema: a histórica concentração da
administração pública na capital.
O cidadão da Transamazônica, do Baixo-Amazonas, do Sul e Sudeste do
Pará tem de viajar quilômetros e quilômetros para se queixar da falta de
segurança, da falta de água, da falta de uma escola de segundo grau, da
precariedade de uma unidade de saúde.
Sim, porque embora muitos desses municípios possuam serviços e órgãos
públicos estaduais, o poder decisório permanece centralizado em Belém.
Há dificuldade até mesmo para obter informações, na capital, acerca das
condições dessas regiões: às vezes, é mais fácil telefonar para São Paulo,
Rio de Janeiro ou Brasília. E quem é repórter ou técnico do governo sabe
disso muito bem.
E o gigantismo territorial faz com que tudo o que se planeje para o Pará,
em termos de serviços públicos essenciais, assuma proporções até
irrealizáveis.
Veja-se o exemplo daquela explosão popular que ocorreu em Goianésia do
Pará, se não me falha a memória, em 2006.
Na época, se bem recordo, havia em Goianésia apenas dez soldados da PM
e nenhum veículo policial - ou o veículo existente estava quebrado há
semanas.
Quer dizer: os crimes se sucediam e a população estava entregue à própria
sorte – daí a explosão.
E a pergunta que fica é: quantos policiais se precisará contratar e quantos
veículos e armamentos será necessário comprar para se ter um
policiamento minimamente decente em cada município deste gigante
chamado Pará?
IV
As populações dessas regiões – da Transamazônica, do Baixo-Amazonas,
do Sul e Sudeste do Pará; os brasileiros e brasileiras dessas regiões
amargam uma vida severina.
E é na situação dessas pessoas que é preciso pensar em primeiro lugar – e
não, simplesmente, nesse “gigantismo romântico” que nunca conseguiu
ultrapassar a geografia, para se transformar, principalmente, em
gigantismo econômico-social.
Já escrevi aqui uma vez: o Sul e o Sudeste do Pará já são, na prática, outro
estado.
Um estado que nasceu de um caldeirão cultural muito diferente daquele
que temos em Belém e em boa parte do Nordeste do Pará.
Um estado construído com o sangue, suor e as lágrimas de milhares de
pioneiros, que transformaram desertos humanos em grandes cidades, como
Marabá e Parauapebas.
E que não podem ser simplesmente tratados como “oportunistas que
querem levar o filé do Pará”, como já li por aí.
Esses brasileiros são pessoas, cidadãos, que tiveram a coragem de
desbravar aquilo que era apenas um latifúndio improdutivo dos habitantes
de Belém.
Sim, porque nós, de Belém, não queremos ir para o interior nem quando
recebemos uma boa oferta de trabalho.
Não queremos ir nem para o Nordeste do Pará, ao qual o acesso é muito
mais fácil. Quanto mais para Marabá, Parauapebas, Canaã, Altamira,
Rurópolis, Novo Progresso ou até mesmo para a belíssima Santarém, com a
sua extraordinária Alter do Chão.
Então, não dá para “satanizar” aquelas pessoas porque reivindicam uma
autonomia a que têm direito, e que será, sim, extremamente benéfica para
a qualidade de vida delas.
E não se pode, também, tentar forçá-las a se identificar com este
nosso “paraensismo”, com o qual, na verdade, jamais guardaram nenhuma
identidade.
Também já disse e vou repetir: não se pode jogar nas costas dessas
pessoas a “culpa” pelo nosso imobilismo e pelas quizílias da política
paraense.
Sim, porque são esse imobilismo e essas quizílias que sempre
representaram, de fato, uma ameaça à situação do Pará – e não,
simplesmente, a divisão territorial.
Ainda gigantes, perdemos espaço para o Amazonas e até para o Maranhão.
Nunca conseguimos nos impor – e, parece-me, isso só aconteceu quando o
finado Hélio Gueiros mandou que enfiassem o lixo atômico em outro buraco.
Sempre nos comportamos bovinamente diante de toda sorte de violências
contra os nossos interesses, como, por exemplo, a Lei Kandir.
Até há pouco tempo o imobilismo e as quizílias políticas não permitiam nem
sequer que nos preparássemos devidamente – como fez o Maranhão – para
ajudar a beneficiar e a escoar as riquezas do futuro Estado de Carajás.
Riquezas que, de tão imensas, tendem a gerar muita riqueza em todo o
entorno.
É em nós e na fuleiragem dos nossos políticos, na pequenez das nossas
lideranças, que temos de buscar eventuais “culpas”, caso a situação do
Pará se complique a partir da divisão territorial.
V
É claro que há todo um processo a atravessar até o nascimento desses
novos estados.
E embora eu vote, sim, a favor da divisão, penso que é preciso realmente
ouvir toda a população do Pará, e não apenas as populações dessas regiões.
É preciso, sim, um amplo debate, talvez o mais importante que já fizemos
na história deste imenso país chamado Pará.
Quem defende a integridade territorial – e sei que são fortes os argumentos
nesse sentido – deve ter a oportunidade de se manifestar para o conjunto
da população.
De igual forma, aqueles que defendem a autonomia dessas regiões.
Penso que não devemos temer esse debate – muito pelo contrário.
Mas creio que essa discussão não pode ser norteada por maniqueísmos ou
por ufanismos acerca da “grandiosidade” do Pará.
Até porque, para mim, uma orgulhosa cabocla paraense, pouco se me dá o
tamanho deste estado.
E para além de toda a sua extraordinária beleza e sedução, este nosso Pará
só será de fato grandioso quando garantir dignidade, Cidadania, para cada
um de seus filhos.
Por fim, gostaria de acentuar o seguinte: ao contrário do que sempre
anunciam os apocalípticos de plantão, o mundo não acabou com a criação
de outros estados brasileiros.
Além disso, os números, sempre tão importantes, não podem ser a única
baliza dessa discussão.
Feitas de carne e osso, as pessoas não comem papel nem matemática, mas
são tão objetivas como qualquer número.
E é nelas que é preciso, sobretudo, pensar nessa discussão, eis que os
cidadãos do Baixo-Amazonas e do Sul e Sudeste do Pará não podem
continuar a viver nesta vida severina que os aflige há décadas, ou até
mesmo há séculos.

Um comentário:

  1. NA verdade para quem não conhece a região e difícil opinar,porém sou de Manaus e de fato e precario a situação dos Amazonenses .principalmente financeira.falta de saneamento.talvez um retrato da situação do seu vizinho Pará.Sempre esquecido pelos seus governadores e a população com menos estrutura tanto educacional quanto pode-se se disser leigo não tem direito a ter um vida digna.Infelizmente este e o Brasil esquecido..

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