No Olho do Furacão
Na Idade Média, na Europa a usura era pecado determinado por Roma, pelo Papa. Pelos parâmetros de hoje, era um
mundo sujo, sem higiene, cheio de tabus, estável. Qualquer ideia nova podia resultar numa fogueira onde o autor e suas
ideias virariam cinza. Pareceria um mundo morto. Vieram, então, o Renascimento e o Mercantilismo, uma revolução sem
precedentes na história do mundo. O Mercantilismo, primeira forma de acúmulo de dinheiro e que pagava juros, financiou
grandes navegações. Mais adiante, aperfeiçoou-se na forma de Capitalismo, que, com seus bancos e sociedades anônimas,
passou a proporcionar dividendos. Foi espetacular, pois o dinheiro acumulado propiciou a construção das máquinas da
Revolução Industrial. Neste momento histórico, o dinheiro deixa de ser simplesmente facilitador das trocas mercantis e, de
maneira sub-reptícia, começa a se transformar num fim em si.
Marx percebeu e avisou. Revoluções, ou tentativas de, aconteceram, mas foram sufocadas pelo poder do Capital
que, nas suas mais diversas formas de manifestação, se revelou sedutor e/ou corruptor. A humanidade que jamais fora de
fato unida em torno de uma filosofia de respeito consciente entre os indivíduos, tornou-se mais e mais individualizada e
egoísta. A “admiração pelo outro” foi substituída pela terrível inveja, deturpando o sentimento de autoestima que passou a
depender da posse de bens: Ser Feliz = Ter Coisas. É que as máquinas produzem coisas, não, sentimentos.
Na busca de lucro, que é a mola mestra do Capitalismo, os ambiciosos, aperfeiçoaram a psicologia de vendas que
explora, de maneira científica e metódica, os mais recônditos sentimentos humanos e, fazendo uso de sofisticados meios de
comunicação, dominam as massas com promessas de uma felicidade que, nos raros casos em que acontece, é efêmera e,
conseqüentemente, frustrante.
Por algum tempo – pois “ninguém engana a todos o tempo todo” – essa ciência deu certo, proporcionando a muitos
uma certa “zona de conforto”, que é como o olho do furacão. Pra quem não sabe, no olho do furacão quase não há vento;
enquanto na volta tudo é destruído, no centro há uma “zona de conforto”, uma calma, uma estabilidade ilusória. Pois já nos
estão atingindo os primeiros ventos. O consumismo atingiu seu ápice e a cobra começou a devorar o próprio rabo: estamos
caindo na real. Consumir mais e mais já não está segurando a insatisfação generalizada, pelo contrário, está se
manifestando em revoltas que os “inocentes detentores do poder não entendem”.
A Imprensa, aliada do processo acima descrito, perdeu o senso crítico; o povo, por ela manipulado, idem. Agora
inicia-se o Caos.
Preparem-se, pois estamos saindo do Olho do Furacão e vamos ter que colher tudo que semeamos nestes últimos
séculos.
miguel angelo